segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Nós e o Brasil de amanhã: que influências levaremos?

Caros leitores, prometo não mais deixar o blog parado por tanto tempo. Hoje, com insônia e tomado pela nostalgia, saquei um Gilberto Freyre da prateleira: Guia Prático, Histórico e Sentimental da Cidade do Recife, juntamente com uma San Miguel da geladeira. Como o próprio título aduz, mais nostágico para um recifense, impossível.

Este livro é singular: traz riquezas da história social do Recife retratada sob um ponto de vista de quem conversou, viveu e pesquisou em diários - não livros científicos - sobre a evolução social da cidade, dividida em pequenos textos que não deixam o leitor entediar-se e perder-se em histórias sem fim, os quais estão separados, nesta 5ª edição de 2007 da Editoria Olimpio, em capítulos temáticos. Dediquei-me ao capítulo das influências e colonizações de outros países na cidade.

O sociólogo pernambucano fala da influência dos ingleses, franceses, alemães, holandeses (dos quais fomos colônia), judeus e, por fim, dos norte-americanos que viveram e fizeram história no Recife (por favor, não diga "em Recife"): seus feitos, opiniões, histórias, contribuições e descontribuições à terra. Por fim, merece serem lidos os comentários do Prof. Antonio Paulo Rezende, da UFPE, sobre esses capítulos, que nos fazem refletir sobre o futuro cultural da cidade.

Os recifenses hoje, como boa parte dos brasileiros, passam por um processo mais aberto de saída do país: mair aberto porque hoje em dia, com a internet, ficou muito mais fácil colher informações sobre um país, uma cidade, uma universidade em que se queira estudar, trabalhar ou "passar um tempo" (com trabalho temporário), como muitos fazem. É bem verdade que, ao chegarmos na Europa continental, vemos o quanto nossa cultura brasileira é preponderantemente norte-americana. Contudo, não creio que os EUA serão a principal influência cultural para os recifenses dentro de alguns anos.

Pelo menos 8 em cada 10 recifenses que conheço que foram estudar, trabalhar, "passar um tempo fora" (a isso me refiro acima de 6 meses) e morar definitivamente, o foram para a Europa: UK, Espanha, França, Itália, Portugal e até Finlândia.

A vida na Europa se vive mais real, é uma vida com menos artificialidades produzidas por uma cultura de massa e meramente consumista. Um ator famoso pode estar ao seu lado num bar, sem ser assediado. Inclusive, este ator, quando voltar pra casa, pode ter que passar um pano húmido para tirar o pó de sua estante, coisa impensável a uma "celebridade" no Brasil. A cultura ferve em cada ponto do continente: aqui é o berço cultural do mundo ocidental que conhecemos hoje.

Vejo sinceramente um melhor futuro para o Recife. Em alguns anos, teremos uma geração que se influenciou fortemente com diferentes culturas da Europa e, bons recifenses que são, saberão mesclar com nossas fontes de cultura: caboclinho, maracatu, ciranda, xaxado, rock da cena alternativa recifense (sim, meu caro, a elite intelectual recifense vive isso). Porque todo recifense que se preze, teve em seu colégio ensinamentos dessas origens, ou as viveu em seus carnavais e festas populares - salve o Guaiamum Treloso! - que ficaram em nossas veias e não sairão jamais. Foi por elites sociais menos conscientes que o bar "Garagem" há pouco foi demolido, reduto da cena alternativa em pleno bairro das Graças.

A tudo isso, somar-se-ão os ensinamentos sociais (sim, de respeitar em plano de igualdade a quem lhe serve, coisa que a cultura de "senhor de engenho" recifense ainda não assimilou bem), culturais e tecnológicos de toda natureza adquiridos na Europa. Resultado: teremos um Recife mais dinâmico, ainda mais multicultural, mas não uma cultura de cima para baixo, imposta com padrões massificantes pré-moldados, mas uma cultura absorvida de quem a viveu e remodelada para a nossa vida, para a cidade que queremos.